QUANDO O AMOR DÓI


A felicidade é algo incrível. Alguns dizem senti-la, diz ser a pessoa mais feliz do mundo, e que se sente completo. Para eles, a felicidade é como a água; ninguém consegue viver sem ela, um sentimento imortal. Outros, dizem que a felicidade é traiçoeira, enganadora, nos eleva além das nuvens e depois usa a gravidade contra nós. Esses, afirmam que a felicidade não é um sentimento, mas algo que acontece, um impulso da natureza para nos alegrar, e por mais longa que seja ela em sua vida sempre vai passar o vento que irá levá-la sem pedir permissão. Sempre. E, sinceramente, eu acredito em ambos.
Em toda minha vida eu sempre fui um idiota. Sempre. E por mais que eu me envergonhe de dizer isso, é a minha realidade. Eu era um rapaz atraente, inteligente e com boas condições. Talvez tudo o que a maioria das mulheres procurasse, mas eu nunca aproveitei quem eu era, ou nunca soube como aproveitar, se eu sempre fui um idiota, foi por minha própria culpa. Minhas conversas sempre foram sem graça, eu não sabia gerar e prolongar uma prosa, então acabava sendo o excluído da turma, sem trocar um papo com alguém, ou mesmo ter um amigo. Nunca usei drogas, se muito, foram apenas alguns copos com cerveja, e mesmo sendo careta, insolado e sem graça havia uma coisa em mim que eu gosta: eu era romântico. A única namorada que tive pode falar o que for de mim, menos que eu não era romântico e a tratava bem. E é justamente essa minha namorada que faz essa história ter sentido. A minha história ter sentido.
Sabrina sempre foi minha colega de classe, desde o colégio, e, ironicamente, na faculdade também, sendo aí que eu reparei nela e ela em mim. Ela era uma moça educada, humilde, carinhosa e divertida. Não possuía uma beleza extraordinária, mas tinha seu charme. Só havia uma coisa nela que não me agradava: ela era comprometida. Mas minha sorte passou a mudar quando aquela mulher de longos cabelos negros se chegou a mim chorando, perdida do que fazer.
- Ele não podia ter feito isso comigo. Não podia! – disse-me, com os olhos inundados.
- O que aconteceu? – perguntei, mas já desconfiava a resposta.
- Eu peguei meu namorado com outra – disse-me ela, bem como eu já imaginava, pois somente quando ela discutia ou brigava com seu namorado era que ela ficava naquele estado. Ela o amava muito, e ele também dizia que a amava. Mas ele mentiu. E para piorar tudo, a traição tinha sido a própria prima dela.
Decepções a parte, minha felicidade começou ali, quando ressentida pela traição do seu ex-namorado, ela me beijou. Naquele dia eu não me lembro de ser dono das minhas ações, não me lembro de controlar minhas emoções, tudo estava como eu sempre sonhei que estivesse, e quando me dei por mim nós já estávamos no quarto de um motel fazendo amor. Desde então, eu e ela estávamos juntos. Não mais apenas como amigos, mas como namorados. Os dias se passaram até que se tornaram meses, e nós continuávamos unidos, felizes, vendo os meses se tornarem anos e anos. Nosso amor era forte, abrasador, fervia entre nós, não conseguíamos ficar longe um do outro. Nosso romance era invejado, querido, abençoado. Nenhum de nós dois conseguia entender como aquele amor era tão impressionante. Ah o amor! Foi por Sabrina que fiz as maiores loucuras da minha vida, coisas que nunca pensei que faria um dia. Coisas boas, coisas ruins, mas não importavam desde que fosse com ela.
- Amor – chamei sua atenção um dia pela manhã. Ela escolhia uma roupa para ir ao trabalho, e após eu ter chamado sua atenção, ela me olhou com seu lindo olhar.
- O que foi, amor? – disse-me.
- Eu estava pensando... sabe, nós já estamos há bastante tempo junto, será que...
- Será que já não está na hora de oficializarmos nosso relacionamento?! É isso que você quer dizer, não é? – ela foi direta, sabia o que eu queria. E eu gostava por sermos sempre assim um com o outro.
- Isso mesmo, amor – confessei. – Será que já não está na hora?
Ela me olhou com um olhar profundo, e depois, por detrás dos seus cílios vastos, seus olhos desviaram a visão para a cama. Não falou nada.
- O que foi? – perguntei. – Não gostou da ideia?
- Não é isso.
- E o que é então? Pode me dizer. Ah já sei onde foi que eu errei. Eu não devia ter dito isso a você numa situação dessas. Devia ter te levado para jantar, ter lhe feito uma surpresa. Desculpa. Por favor, me perdoe.
- Não precisa se desculpar, amor. Não precisa – disse-me, sincera. – Você não fez nada de errado.
- Então ouça o que vou lhe dizer. – E nessa hora eu me ajoelhei. Ela pensou que eu iria fazer um pedido de casamento, mas, na verdade, apenas a chamei para jantar à noite, quando chegássemos do trabalho. – Você aceita?
- É claro que eu aceito, seu bobo – foi a resposta que obtive. E, feliz, fui trabalhar.
Naquele dia, nada poderia ser melhor que ouvir o “sim” de Sabrina quando eu a pedisse em casamento. O que eu sentia por ela parecia apenas aumentar a cada dia. Antes, eu era apenas um qualquer vivendo nesse mundo, mas depois que a conheci eu era forte, eu era querido, eu era especial. Acordar com ela era um sonho que eu vivia, nada era tão perfeito quanto acordar sentindo seu cheiro, com os pássaros cantando do lado de fora e o sol entrando pela fresta da janela. Nada.
O trânsito não me estressou naquele dia. Nem a chuva, ou a correria de mais um dia de trabalho. Alguns amigos disseram que eu estaria assinado um atestado de escravidão, que eu estava ficando louco, pois Sabrina nunca tinha dito nada sobre casamento e eu queira me oficializar com ela, sendo que tudo o que a maioria deles esperavam de uma mulher era nunca precisarem casar, mas eu, romântico como era, estava decidido que me casaria com aquela mulher e seria feliz junto com ela.
Eles tentaram me levar para uma despedida de solteiro, mas rejeitei, pedi para ser liberado mais cedo do trabalho para poder fazê-la uma surpresa. Passei numa floricultura para comprar suas flores prediletas e fui até a empresa onde ela estagiava, pronto para lhe surpreender.
- Hey, você por aqui, rapaz – disse um primo de Sabrina ao me ver chegando à empresa. – O que veio fazer aqui? – perguntou-me.
- Vim fazer uma surpresa para sua prima. Diga-me, onde posso encontrá-la?
- Como assim, cara? Sabrina não veio hoje, disse que iria ter um compromisso.
- Compromisso?
- É. Tá surdo? Ela me ligou mais cedo e me disse isso.
- Eu vou a pedir em casamento hoje. Mas esse compromisso será à noite.
- E você já não sabe como são as mulheres, rapaz. Muito provavelmente ela deve ter ido a um salão, ter comprado roupas novas, um perfume diferente. Tudo para te agradar.
- É, acho que você tem razão. Vou para casa. Irei ficar esperando por ela – disse, sorrindo, e fui para casa.
Acelerei o carro para chegar logo e diminuir a tensão. As rosas exalavam um aroma que me fazia sentir o toque delicado de Sabrina sobre meu corpo. E ao dobrar a esquina vi seu carro estacionado frente a casa. Estacionei, peguei o buquê, o cartão, o chocolate e subi rapidamente os degraus da varanda, louco para vê-la, dar-lhe um beijo amoroso. Mas quando abrir a porta...
- Mas o que...
...Vi a pior cena que poderia ter visto em toda minha vida. O amor da minha vida, a mulher que eu tanto amava, estava bem ali, na minha frente, conjugando com o seu antigo ex-namorado.
A raiva me subiu à cabeça, todo meu corpo estava estremecido. Eu não sabia o que dizer, nem mesmo o que fazer, meus olhos buscaram o jarro de vidro que estava bem ao meu lado. E quando a frase “eu posso explicar” foi dita por ela foi que eu consegui despertar do trauma que aquela visão tinha me causado. Tentei impedir que as lágrimas me chegassem aos olhos, mas não consegui, elas rolaram incessantemente, só que não era lágrimas de tristezas, e sim de fúria.
- Eu te amei, sua vadia – berrei, expelindo saliva entre as palavras.
- Calma – ela disse. Iria dizer mais alguma coisa, mas não deixei.
- Como pode me pedir calma, sua prostituta? Como? – Olhei novamente para o jarro, minha mão tremia, e então segurei-o.
- Pense no que vai fazer, amor – ela tentou me alertar. Seu companheiro não teve coragem de mover um músculo sequer. Ele chegou a me conhecer, antes, e sabia que eu era um rapaz gentil. E nada é mais perigoso que um homem gentil irado.
 O jarro estava ali pronto para vitimar, mas então o larguei e fui embora para não acabar fazendo uma besteira, algo que sabia que depois eu iria me arrepender de ter feito.
Peguei meu carro e sair em disparada, totalmente descontrolado, chorando raiva. Como ela pôde ter feito àquilo comigo? Por que, se eu nunca tinha feito nada que a magoasse? Como ela pôde ter tanta coragem? E por que logo com o antigo namorado? Foi com essas perguntas na cabeça que acabei batendo de frente com um ônibus, acordando depois de dois meses em coma descobrindo que estava paraplégico e sabendo com extrema amargura que a mulher que eu tanto amava ainda tinha me enviado o convite do seu casamento com outro homem. Até hoje eu não consigo entender como ela fez tudo isso comigo.
Por quê?

Comments (4)

Você a cada dia me surpreende.
Continue assim,e você vai longe ;)

Valeu, Linda. Irei tentar melhorar cada vez mais.
Abraço.

Achei bem interessante a postagem. Acho que se você tivesse escrito um pouco mais, dando mais espaço para o desenvolvimento dos personagens a narrativa ganharia bastante com isso. Outra coisa, cuidado com as palavras que se repetem em um curto espaço, mesmo que em dialogos, o uso excessivo da palavra pode soar cansativo. Mas no geral gostei. Abraço.

Valeu, Bardo. Pode deixar que me policiarei mais na questão das palavras repetidas.
Abraço.

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